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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

o meu feliz é elevatório. sobe e desce . e ninguém percebe porquê

o dia antes do último dia em paris 

falavas comigo a correr, apanhavas o comboio que te levaria de volta ao Património da Humanidade. Ouvi-te a correr, como quem quer dizer tantas coisas em meia dúzia de palavras. gostei de te ouvir , mesmo sendo  a correr.
 Acordei com os pés inchados te tanto andar, caminho e caminho, pelas intermináveis avenidas de Paris. Bairros que se cruzam com bairros, um café em cada esquina, uma esplanada em cada volta , assim tal e qual como eu gosto.
 De tanto andar, incharam-me os pés, e hoje  não podia por o pé no chão. Resumindo, já não tenho idade para estas andanças.
Resolvi que não iria estragar o passeio a ninguém e fiquei por casa. 
Esta ainda é mais mini que a minha mini casa sacavenense, aquela que já imaginei um dia como nossa. Arrumei e lavei tudo , só não mudei tudo de lugar porque não havia lugar para mudar.
Limpezas feitas e pés inchados, sentei-me. Olhei pela janela, aqui a janela é muito grande, quase do tamanho da parede. Li os teus mails pequenos, tão pequenos e tão cheios de esperança. Sorri, porque não te morreu a esperança. Ao ler-te, senti a falta que me fazes. 
Quase não entendendo porquê.
Fumo vários cigarros.
Eles só chegam mais logo.Volto a ler tudo o que me escreves , tudo o que te escrevi. 
Enchem-se-me os olhos de lágrimas, e penso que deveria estar mais feliz que infeliz . 
Mas as lágrimas que caiem , não são lágrimas más, são só lágrimas que saltam do coração , fazem um caminho já trilhado ...
Faço figas com os dedos, espero que o almoço seja o que esperas; mais tarde dizes-me que foi o princípio de qualquer coisa.... 
E esperamos tanto.
Obrigo-me a não pensar no que poderia ser, e vou ao super mercado daqui desta terrinha. Uns arredores de Paris tão simpáticos como as suas casas de pedra, ruas estreitinhas, e uma praça que parece saída directamente do Alô Alô. Reparo nas pessoas, e fico sempre na expectativa que apareça o Renier de avental branco. 
Atravesso a estrada em dois tempos, de repente sinto que estou sozinha e longe, sensação que não me é estranha, e que imediatamente afasto cantarolando baixinho . 
No Casino, assim se chama o super mercado, perco-me na zona dos queijos e patés de canard e outras coisas assim, distraio-me com coisas que não me habituam. Compro o essencial . 
Vou fazer costeletas para o jantar, nas compras trouxe também um saleiro e um pimenteiro, um senhor de bigode e  uma senhora de pestanas compridas. Acho que vão gostar. 
Chego a casa, arrumo tudo, começo a preparar o jantar. Eles devem vir cansados. 
Esqueço-me da sobremesa, mas não volto para trás. 
Tento descansar os pés, e não consigo estar quieta . estendo uma roupa que está na máquina, num varão esquisito que está sempre a cair .
Liguei-te duas vezes, não respondeste, calculei que não poderias. Por vezes sinto-me a viver no meio do que há-de ser. Sinto intervalos nem sei de quê.
Inevitavelmente, sempre me tento concentrar em cada passo que dou .
Esta sala tem cortinas pretas, um tecido transparente mas preto, não entra a luz com a força que a luz deve ter . O preto torna-a cinzenta , e o dia lá fora está cinzento. Fecho as cortinas, tornando o quadrado em que estou mais acolhedor. 
Gosto de espaços acolhedores, confunde-me que não os queiram assim . À minha maneira, tento acolher este espacinho que o azeitoninhas partilha. Sei que não devo exagerar, não exagero .Sei que não devo julgar, não julgo.
Sentada, fazendo tempo para que cheguem com coisas para me contar, volto-me para trás no tempo. Revejo tudo, e sempre encontro coisas diferentes; razões;atitudes; alegrias; tristezas.
Invade-me uma ternura imensa depois de falar contigo, ternura e saudade. Obrigo-me e não fico triste.
Mesmo de pés inchados como um bizonte, mesmo com queimaduras feitas com meias dos chineses, que tu me disseste a correr que era das tintas que eles usam, mesmo com a cara salgada do trilho de lágrimas boas que se misturam com más, mesmo despenteada porque não tenho secador de cabelo, mesmo com esta cara que me vejo ao espelho, mesmo saudosa, mesmo longe, mesmo sozinha no meio de gente, mesmo baralhada de tanta coisa que vi, mesmo confundida de tantos sonhos acordada, sonhado em cada café de Paris, em cada um que me sentei ...mesmo isso tudo ... 
Obrigo-me a ser feliz, a cumprir o que mandas-te fazer, viver estes momentos todos, contente . Só porque não sei o que será o futuro, só porque me parece que tantos dias que aí vêm, serão mesmo como disseste , rotineiros e de espera . 
Só por isso, obrigo-me a ficar feliz.
E o meu feliz é elevatório. sobe e desce . e ninguém percebe porquê. 
Jantámos todos, tinha tudo feito quando chegaram . Comemos e rimos, o costume, porque felizmente nenhum deles tem um passado tão grande como o meu , porque todos eles se concentram no presente e nos seus imensos futuros.
 E eu,  libelinha, vou voando em pensamento, por aqui e por ali. Poiso e levanto . Fico triste e rio-me à gargalhada. Disfarço lágrimas de saudade com lágrimas de riso . 
Por momentos, no meio de todos eles, esqueço-me que não tarda nada estarei aí . E misturo alegria com receios. 
Já deitada , num colchão de ar que se vai esvaziando, não deixo de sorrir com esta analogia com o meu coração, porque o sinto tantas vezes assim...como um balão, ou um colchão de ar com um furinho minúsculo.
Sem sono, resolvi escrever este dia, já não escrevia desde que cheguei a Paris, ou mesmo antes.
Dois já dormem ali no outro colchão. 
O meu azeitoninhas está aqui na cama, ao meu lado , e joga um jogo no computador, quer ler o que escrevo e eu não deixo . Fumamos cigarros a meias às escuras , iluminados apenas com a luz que sai do ecrã . Somos sempre os últimos a adormecer nesta camarata. È de família só pode... 
Amanhã será o último dia em Paris, e como tal não temos programa. 
Amanhã vai ser só o dia antes do dia em que irei para casa, cheia de esperança, e com vontade de ter força para chegar a qualquer sítio no tempo que tiver que ser. E patino neste ringue de patinagem quase sem me equilibrar.
Fecho os olhos, oiço a tua apressada voz , e penso que o teu tempo um dia também será o meu .
Sei que não vou conseguir dormir, entretanto o meu colchão, esvazia -se à velocidade do meu coração .
Amanhã é o dia seguinte .

e penso ..tal como escrevi... que temos que entrar, nem que seja para depois sair 

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